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Gravura de época: A dama passa a sua delicada mão na
perna do cavalheiro encostando em sua virilha. |
No
decorrer dos meses, foram postadas aquí algumas canções de nossos
trovadores cortês contemporâneos (vulgo: funkeiros). Muitas pessoas
não sabem o que foi o Amor Cortês e muito menos sabem o que são as
canções trovadorescas. Como
é bem explicada na descrição do blogue, o Amor Cortês foi um
estilo criado durante o Medievo, na Europa, aonde cantores, ou
trovadores poetas, expressavam o amor dos cavaleiros pelas suas
damas. O amor cortês era o amor platônico, a paixão que tais
personagens sentiam um pelo outro, e estas canções eram verossímeis
à realidade de época.
Temos
por entender, que as canções de gesta foram um dos primeiros
vestígios de memória da história durante o medievo, pois nelas
eram escritas o que simbolizava a cultura na época, tal como os
livros de receita dos cozinheiros dos castelos, que também
representavam a memória cultural culinária na forma escrita.
Mas
as canções descreviam a cultura e principalmente o heroísmo do
cavaleiro, que se torna cortês, no século XII.
Agora,
porque cavaleiro cortês? E qual a diferença entre cavaleiro e
cavalheiro?
Pois
bem, o cavaleiro era o homem que defendia os castelos medievais, eles
eram os homens escolhidos pelos reis que em troca de promover a
segurança dos castelos, e assim os senhores davam um título de
nobreza, tal como o de “cavaleiro da corte”. Estes homens, os
cavaleiros eram os soldados do Rei.
Os
homens nesta época nos reinos aprendiam a utilizar espadas como
forma de defender o seu terrirório, a sua região, o seu o seu
senhor, o rei. Taí, o porque do cavaleiro medieval estar assimilado
a imagem do homem no cavalo (taí porque da evolução linguística
para cavalheiro também), armado da espada e da armadura.
Agora
sobre a evolução linguística, foi porque em um momento, os reinos
precisavam de membros e a igreja era o núcleo de união das pessoas.
Houve então pactos entre a igreja e os reinos. Os soldados passaram
a jurar a fidelidade ao Rei a partir da Igreja que assegurava-o. E o
cavaleiro era treinado para ser agora então, um cavalheiro, um homem
de bem, que seguia um padrão estipulado em cartilha pela igreja como
ensinamentos.
Durante
os séculos III e X alguns reinos foram se tornando católicos,
passando pelo período Carolíngio, também das difusões e
diferenciações das línguas anglo-germânicas e latinas.
Algumas
das lendas em canções e poemas mais conhecidas desta época são as
do Rei Arthur com os seus cavaleiros da Távola Redonda, aonde são
descritas as aventuras dos homens defendendo o reino do seu senhor,
fora outras chamadas novelas de cavalaria, que por influência
católica descreviam as aventuras de cavaleiros em busca do Santo
Graau, o cálice sagrado desaparecido aonde foi depositado o sangue
de Cristo quando morto.
Mas
o trovadorismo, vai surgir de verdade entre os séculos XII e XVI, e
como todo estilo “literário”, vai evoluir, e com a ascenção do
Renascimento vão vir reações a cultura cristã européia e daí
vão surgir as cantigas de escárnio e maldizer.
O
Amor Cortês vai ser expresso nestas canções de escárnio e
maldizer, aonde estão sátiras sobre a realidade cotidiana, tal como
a exarcebação do sexo e da luxúria condenada pela igreja na época,
pois o sexo era defendido por ela apenas para o ato da reprodução e
que a mulher não poderia sentir prazer, ou ela seria mundana.
De
acordo com “Sexo,
Desvio e Danação – As Minorias na Idade Média”,
Obra literária de RICHARDS, Jeffrey, Historiador Inglês, Adaptado e
Traduzido do Original, da primeira edição inglesa de 1990, por
Marco Esteves Antônio da Rocha e Renato Aguiar em 1993, O livro
retrata a idade média, sobre o âmbito das minorias sociais
perseguidas
pela
inquisição da igreja católica, sejam esses povos Judeus,
prostitutas, hereges,
leprosos,
bruxos e homossexuais, a partir do controle que a religião exercia
sobre a
sociedade,
em esforços de impedir que se desvirtuassem, ou crescessem outras
religiões,
nos
sentidos os quais a igreja defendia evitando a formações de novos
ideais
humanistas,
anti teocentristas que estavam surgindo na Europa durante os séculos
XII
ao
XIV. Segundo a obra literária, a Igreja católica tratava a Peste
Negra como um
castigo
divino para a humanidade, assim como a Lepra era também uma doença
que o
infiel
contraia como penitência. Leprosos eram impuros como prostitutas.
Era
forte o idealismo inclusive da crença pelo livro do Apocalipse na
Bíblia, este
era
creditado como algo que poderia acontecer a qualquer momento.
O
livro cita inclusive os consílios lateranenses criados pela igreja
para repensar a
forma
que estava sendo acrescentado o Catolicismo, e deles vieram as leis
da
Inquisição.
Entre as leis, a de separação do Católico e do infiel, e que os
infiéis
deveriam
ser separados por distinção de roupas, marcas ou sinais, estas
criadas como
forma
de identificar os que seriam “infames”.
O
ato sexual era tratado na Idade Media como um “mal necessário”,
uma vez
que
ele era ligado apenas a criação e reprodução de vidas humanas –
Pensamento
inclusive
defendido na atualidade pelas religiões protestantes.
A
Homossexualidade era tratada como um pecado contra a natureza. O
autor
ainda
cita a homossexualidade na antiguidade, em que esta era realizada
entre um
homem
mais velho e outro mais novo, como ato de admiração do mais velho
pelo mais
novo,
em que o mais velho ensinava as artes e a experiencia de vida ao mais
novo. Em
relações
sexuais o mais velho faria o papel do ativo e o mais novo do passivo,
e que
estes
deveriam casar com pessoas de sexo oposto e ter filhos, o que poderia
ser tratado
como
Bissexualidade.
As
prostitutas não eram diferentes como na atualidade, vendiam os seus
corpos
como
forma de sobrevivência. E a Igreja depois do Concílio de Paris de
1239, passou a
repugná-las
da mesma forma aos leprosos.
Mas
era credo na possibilidade de regeneração destas prostitutas, a
partir do
matrimônio
e familiarização destas que poderiam deixar as suas vidas,
condenáveis pela
religião
cristianista.
O
período da inquisição da igreja católica foi marcado pela queima
em fogueiras
em
praças públicas de pessoas que eram acusadas de irem contra a fé
católica e o
teocentrismo,
sendo assim taxados como bruxos.
O
Livro também fala sobre a Heresia a parte, dizendo que na Idade
Média era
pensado
que qualquer ato de tentativa de desintegrar a cristandade, seria uma
“obra do
diabo”,
assim condenado qualquer ato anti católico.
Sobre
a Heresia de acordo com DUBY, Georges:
“A
heresia surgiu em Orleães, na capela régia, quer dizer num centro
de
investigação
tão ávido de novidades como Reims, Laon ou Cambrai; propagou-se
aos
capítulos catedrais mais esclarecidos, nos mosteiros mais
purificados. (...) A
heresia
sonhava com outra sociedade. Não desordenada, certamente – porque
qual é
a
sociedade que pode vingar sem ordem? – mas com uma sociedade
diferentemente
ordenada,
fundada numa nova concepção da verdade, das relações entre a
carne e o
espírito,
entre o visível e o invisível.”
(DUBY,
p. 142)
Os
Judeus têm na sua história a perseguição dos católicos que veio
a ser imposta
biblicamente
pelo julgamento que levou a morte de Jesus Cristo em 33dc, e séculos
depois,
também foram retratados como hereges.
Todos
os temas são interligados ao assunto do Sexo, uma vez que as doenças
eram
passadas pelo ato, e as prostitutas e homossexuais eram consideradas
a “fonte” do
ato
herético e no caso dos Judeus era histórico e Bíblico, por
passarem a ser
considerados
hereges, estavam incluídos ao grupo dos “excluídos” da
aceitação católica.
Avaliando
bem os conceitos, é mais pelo contexto do que era considerado
“heresia”
pela igreja católica do que pelo ato sexual.
Podemos
compreender que a História Medieval não foi totalmente coberta por
esta “treva” que foi considerada pelos historiadores, como
exemplo a própria inquisição, isto pela quantidade de expressões
artísticas de época que foram produzidas nesta idade,
principalmente na região da península Itálica, aonde os
descendentes da Família Médici financiavam as artes compostas por
inúmeros artístas.
Das
artes dos trovadores européias dos tempos Medievais, algumas do
século XII-XIV, foram descobertas letras que falavam do sexo com
descrição do ato concepcional, e entre algumas dessas letras,
classificadas como “cantigas de maldizer” ou “escárnio”,
estão as do Português
Afonso
Eanes de Coton que vão ser uma crítica direta a sociedade:
Marinha,
o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de
te não ver rebentar;
pois tapo com esta
minha
boca, a tua boca, Marinha;
e
com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com
as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te
ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e
como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E
não rebentas, Marinha?
Outra
canção de Coton, também fala da imposição do homem como o
“vassalo da mulher”, ou seja, a sua paixão é tão grande que
ele se torna submisso a ela:
A
gran dereito lazerei,
que
nunca home viu maior,
u
me de mia senhor quitei
..................................................
e
que quería eu melhor
de
seer seu vassalo
e
ela mia senhor?
E
ja sempre por fol terrei
o
que deseja ben maior
daquele
que eu receei;
a
guisa fize de pastor;
e
que quería eu melhor
de
seer seu vassalo
e
ela mia senhor?
E
quantas outras donas sei
a
sa beldad'ést'a maior,
daquela
que desejar hei
enos
días que vivo for:
e
que quería eu melhor
de
seer seu vassalo
e
ela mia senhor?
Existem
muitos artistas de época que fizeram a crítica a sociedade
utilizando a conotação sexual e Coton foi só um dos exemplos mais
fáceis de serem encontrados online, inclusive no site
dominiopúblico.gov.br existem uma série de obras catalogadas do
autor e de outros autores também. Mas é válido dizer que estas
obras trovadorescas a maioria são de autoria desconhecida,
encontradas em documentos de época, dos que se salvaram da
inquisição, ou foram encontrados em lugares históricos ou
guardados por descendentes de familiares desses artistas que mostravam
em escrituras o que eram os relacionamentos ilícitos dos cavaleiros
pelas suas damas, em que as vezes vão envolver as vezes rainhas
casadas e seus amantes, assim como cavaleiros e princesas prometidas
à príncipes de outros reinos.
Fontes Literárias:
* “Sexo, Desvio e Danação – As Minorias na Idade Média”. RICHARDS, Jeffrey;
* "O Nome da Rosa" - Umberto Eco;
* “Lúcifer
– O Diabo na Idade Média” - Jeffrey
Russel;
* "O Tratado do Amor Cortês - André Capelão.
Fontes da Web:
* http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=82033
* http://www.mensagenscomamor.com/livros/cantigas_de_afonso_eanes_de_coton.htm
* http://laarquitecturadetushuesos.files.wordpress.com/2008/10/image005.jpg