segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O que era o "Amor Cortês" na Idade Média?

Gravura de época: A dama passa a sua delicada mão na
perna do cavalheiro encostando em sua virilha.

No decorrer dos meses, foram postadas aquí algumas canções de nossos trovadores cortês contemporâneos (vulgo: funkeiros). Muitas pessoas não sabem o que foi o Amor Cortês e muito menos sabem o que são as canções trovadorescas. Como é bem explicada na descrição do blogue, o Amor Cortês foi um estilo criado durante o Medievo, na Europa, aonde cantores, ou trovadores poetas, expressavam o amor dos cavaleiros pelas suas damas. O amor cortês era o amor platônico, a paixão que tais personagens sentiam um pelo outro, e estas canções eram verossímeis à realidade de época.
Temos por entender, que as canções de gesta foram um dos primeiros vestígios de memória da história durante o medievo, pois nelas eram escritas o que simbolizava a cultura na época, tal como os livros de receita dos cozinheiros dos castelos, que também representavam a memória cultural culinária na forma escrita.
Mas as canções descreviam a cultura e principalmente o heroísmo do cavaleiro, que se torna cortês, no século XII.
Agora, porque cavaleiro cortês? E qual a diferença entre cavaleiro e cavalheiro?
Pois bem, o cavaleiro era o homem que defendia os castelos medievais, eles eram os homens escolhidos pelos reis que em troca de promover a segurança dos castelos, e assim os senhores davam um título de nobreza, tal como o de “cavaleiro da corte”. Estes homens, os cavaleiros eram os soldados do Rei.
Os homens nesta época nos reinos aprendiam a utilizar espadas como forma de defender o seu terrirório, a sua região, o seu o seu senhor, o rei. Taí, o porque do cavaleiro medieval estar assimilado a imagem do homem no cavalo (taí porque da evolução linguística para cavalheiro também), armado da espada e da armadura.
Agora sobre a evolução linguística, foi porque em um momento, os reinos precisavam de membros e a igreja era o núcleo de união das pessoas. Houve então pactos entre a igreja e os reinos. Os soldados passaram a jurar a fidelidade ao Rei a partir da Igreja que assegurava-o. E o cavaleiro era treinado para ser agora então, um cavalheiro, um homem de bem, que seguia um padrão estipulado em cartilha pela igreja como ensinamentos.
Durante os séculos III e X alguns reinos foram se tornando católicos, passando pelo período Carolíngio, também das difusões e diferenciações das línguas anglo-germânicas e latinas.
Algumas das lendas em canções e poemas mais conhecidas desta época são as do Rei Arthur com os seus cavaleiros da Távola Redonda, aonde são descritas as aventuras dos homens defendendo o reino do seu senhor, fora outras chamadas novelas de cavalaria, que por influência católica descreviam as aventuras de cavaleiros em busca do Santo Graau, o cálice sagrado desaparecido aonde foi depositado o sangue de Cristo quando morto.
Mas o trovadorismo, vai surgir de verdade entre os séculos XII e XVI, e como todo estilo “literário”, vai evoluir, e com a ascenção do Renascimento vão vir reações a cultura cristã européia e daí vão surgir as cantigas de escárnio e maldizer.
O Amor Cortês vai ser expresso nestas canções de escárnio e maldizer, aonde estão sátiras sobre a realidade cotidiana, tal como a exarcebação do sexo e da luxúria condenada pela igreja na época, pois o sexo era defendido por ela apenas para o ato da reprodução e que a mulher não poderia sentir prazer, ou ela seria mundana.
De acordo com “Sexo, Desvio e Danação – As Minorias na Idade Média”, Obra literária de RICHARDS, Jeffrey, Historiador Inglês, Adaptado e Traduzido do Original, da primeira edição inglesa de 1990, por Marco Esteves Antônio da Rocha e Renato Aguiar em 1993, O livro retrata a idade média, sobre o âmbito das minorias sociais perseguidas
pela inquisição da igreja católica, sejam esses povos Judeus, prostitutas, hereges,
leprosos, bruxos e homossexuais, a partir do controle que a religião exercia sobre a
sociedade, em esforços de impedir que se desvirtuassem, ou crescessem outras religiões,
nos sentidos os quais a igreja defendia evitando a formações de novos ideais
humanistas, anti teocentristas que estavam surgindo na Europa durante os séculos XII
ao XIV. Segundo a obra literária, a Igreja católica tratava a Peste Negra como um
castigo divino para a humanidade, assim como a Lepra era também uma doença que o
infiel contraia como penitência. Leprosos eram impuros como prostitutas.
Era forte o idealismo inclusive da crença pelo livro do Apocalipse na Bíblia, este
era creditado como algo que poderia acontecer a qualquer momento.
O livro cita inclusive os consílios lateranenses criados pela igreja para repensar a
forma que estava sendo acrescentado o Catolicismo, e deles vieram as leis da
Inquisição. Entre as leis, a de separação do Católico e do infiel, e que os infiéis
deveriam ser separados por distinção de roupas, marcas ou sinais, estas criadas como
forma de identificar os que seriam “infames”.
O ato sexual era tratado na Idade Media como um “mal necessário”, uma vez
que ele era ligado apenas a criação e reprodução de vidas humanas – Pensamento
inclusive defendido na atualidade pelas religiões protestantes.
A Homossexualidade era tratada como um pecado contra a natureza. O autor
ainda cita a homossexualidade na antiguidade, em que esta era realizada entre um
homem mais velho e outro mais novo, como ato de admiração do mais velho pelo mais
novo, em que o mais velho ensinava as artes e a experiencia de vida ao mais novo. Em
relações sexuais o mais velho faria o papel do ativo e o mais novo do passivo, e que
estes deveriam casar com pessoas de sexo oposto e ter filhos, o que poderia ser tratado
como Bissexualidade.
As prostitutas não eram diferentes como na atualidade, vendiam os seus corpos
como forma de sobrevivência. E a Igreja depois do Concílio de Paris de 1239, passou a
repugná-las da mesma forma aos leprosos.
Mas era credo na possibilidade de regeneração destas prostitutas, a partir do
matrimônio e familiarização destas que poderiam deixar as suas vidas, condenáveis pela
religião cristianista.
O período da inquisição da igreja católica foi marcado pela queima em fogueiras
em praças públicas de pessoas que eram acusadas de irem contra a fé católica e o
teocentrismo, sendo assim taxados como bruxos.
O Livro também fala sobre a Heresia a parte, dizendo que na Idade Média era
pensado que qualquer ato de tentativa de desintegrar a cristandade, seria uma “obra do
diabo”, assim condenado qualquer ato anti católico.
Sobre a Heresia de acordo com DUBY, Georges:

“A heresia surgiu em Orleães, na capela régia, quer dizer num centro de
investigação tão ávido de novidades como Reims, Laon ou Cambrai; propagou-se
aos capítulos catedrais mais esclarecidos, nos mosteiros mais purificados. (...) A
heresia sonhava com outra sociedade. Não desordenada, certamente – porque qual é
a sociedade que pode vingar sem ordem? – mas com uma sociedade diferentemente
ordenada, fundada numa nova concepção da verdade, das relações entre a carne e o
espírito, entre o visível e o invisível.”
(DUBY, p. 142)

Os Judeus têm na sua história a perseguição dos católicos que veio a ser imposta
biblicamente pelo julgamento que levou a morte de Jesus Cristo em 33dc, e séculos
depois, também foram retratados como hereges.
Todos os temas são interligados ao assunto do Sexo, uma vez que as doenças
eram passadas pelo ato, e as prostitutas e homossexuais eram consideradas a “fonte” do
ato herético e no caso dos Judeus era histórico e Bíblico, por passarem a ser
considerados hereges, estavam incluídos ao grupo dos “excluídos” da aceitação católica.
Avaliando bem os conceitos, é mais pelo contexto do que era considerado
“heresia” pela igreja católica do que pelo ato sexual.
Podemos compreender que a História Medieval não foi totalmente coberta por esta “treva” que foi considerada pelos historiadores, como exemplo a própria inquisição, isto pela quantidade de expressões artísticas de época que foram produzidas nesta idade, principalmente na região da península Itálica, aonde os descendentes da Família Médici financiavam as artes compostas por inúmeros artístas.
Das artes dos trovadores européias dos tempos Medievais, algumas do século XII-XIV, foram descobertas letras que falavam do sexo com descrição do ato concepcional, e entre algumas dessas letras, classificadas como “cantigas de maldizer” ou “escárnio”, estão as do Português Afonso Eanes de Coton que vão ser uma crítica direta a sociedade:

Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca
, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu
;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.

E não rebentas, Marinha? 

Outra canção de Coton, também fala da imposição do homem como o “vassalo da mulher”, ou seja, a sua paixão é tão grande que ele se torna submisso a ela:

A gran dereito lazerei,
que nunca home viu maior,
u me de mia senhor quitei
..................................................
e que quería eu melhor
de seer seu vassalo
e ela mia senhor?
E ja sempre por fol terrei
o que deseja ben maior
daquele que eu receei;
a guisa fize de pastor;
e que quería eu melhor
de seer seu vassalo
e ela mia senhor?
E quantas outras donas sei
a sa beldad'ést'a maior,
daquela que desejar hei
enos días que vivo for:
e que quería eu melhor
de seer seu vassalo
e ela mia senhor?

Existem muitos artistas de época que fizeram a crítica a sociedade utilizando a conotação sexual e Coton foi só um dos exemplos mais fáceis de serem encontrados online, inclusive no site dominiopúblico.gov.br existem uma série de obras catalogadas do autor e de outros autores também. Mas é válido dizer que estas obras trovadorescas a maioria são de autoria desconhecida, encontradas em documentos de época, dos que se salvaram da inquisição, ou foram encontrados em lugares históricos ou guardados por descendentes de familiares desses artistas que mostravam em escrituras o que eram os relacionamentos ilícitos dos cavaleiros pelas suas damas, em que as vezes vão envolver as vezes rainhas casadas e seus amantes, assim como cavaleiros e princesas prometidas à príncipes de outros reinos.

Fontes Literárias:

* “Sexo, Desvio e Danação – As Minorias na Idade Média”.  RICHARDS, Jeffrey;
* "O Nome da Rosa" - Umberto Eco;
Lúcifer – O Diabo na Idade Média” -  Jeffrey Russel;
* "O Tratado do Amor Cortês - André Capelão.

Fontes da Web:

* http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=82033
http://www.mensagenscomamor.com/livros/cantigas_de_afonso_eanes_de_coton.htm
* http://laarquitecturadetushuesos.files.wordpress.com/2008/10/image005.jpg


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